Diretrizes de consenso publicadas recentemente para tratamento de queda de cabelo com minoxidil oral de baixa dosagem fornecem recomendações práticas que abrangem desde o pré-tratamento e aconselhamento até o monitoramento de pacientes.
Com a falta de grandes ensaios clínicos randomizados e controlados, os autores e outros dermatologistas destacaram que o documento pode reforçar a confiança dos médicos na prescrição desse tratamento.
Conforto e confiança
O Dr. Benjamin Ungar, diretor do Alopecia Center of Excellence na Mount Sinai Icahn School of Medicine, nos Estados Unidos, disse esperar que as diretrizes “façam com que os dermatologistas se sintam mais confortáveis com o uso de minoxidil oral em baixa dosagem para tratar diferentes tipos de perda de cabelo na prática; assim, mais pacientes se beneficiarão”.
Embora não seja um dos autores do artigo, publicado on-line no periódico JAMA Dermatology em 20 de novembro de 2024, ele foi convidado a comentar.
O comitê diretor multidisciplinar de Iniciação de Minoxidil Oral em Baixa Dose recrutou dermatologistas com experiência em queda de cabelo de 12 países. Por meio de um processo Delphi modificado de quatro rodadas, que exigia pelo menos 70% de concordância, o grupo de 43 dermatologistas elaborou 76 declarações de consenso.
“Notavelmente”, disse a coautora sênior Dra. Jennifer Fu, médica e diretora da Hair Disorders Clinic at the University of California, nos EUA, “27 itens alcançaram pelo menos 90% de consenso após as duas primeiras rodadas, indicando amplo acordo na prática especializada”.
Indicações para minoxidil oral de baixa dosagem
Pelo menos 90% dos especialistas concordaram que o minoxidil oral de baixa dosagem é adequado para alopecia androgenética, afinamento relacionado à idade e casos em que o minoxidil tópico é ineficaz ou problemático.
Outros cenários em que o uso oral pode fornecer benefício direto envolvem miniaturização folicular, como alopecia areata, ou interrupção do ciclo capilar, como quimioterapia. Os autores também recomendaram considerar o minoxidil oral de baixa dosagem quando o tópico for mais caro ou quando os pacientes buscarem maior hipertricose.
Contraindicações e precauções
Antes de prescrever minoxidil oral de baixa dosagem, os autores escreveram, os médicos podem consultar equipes de atenção primária ou cardiologia quando houver contraindicações (problemas cardiovasculares, gestação/amamentação e potenciais interações medicamentosas) ou precauções (histórico de taquicardia ou arritmia, hipotensão ou função renal prejudicada). Pacientes com precauções podem exigir monitoramento da pressão arterial e de efeitos adversos do tratamento.
O painel de especialistas também sugeriu esse monitoramento para todos os pacientes ao iniciar o tratamento ou escalonar a dose. Os autores desaconselharam exames laboratoriais e eletrocardiograma basal de rotina na ausência de precauções relevantes.
Considerações sobre dosagem
Além do risco de eventos adversos sistêmicos e da gravidade da queda de cabelo basal, a dosagem deve considerar a idade, o sexo e se o paciente está disposto a aceitar a hipertricose.
O consenso estabelece doses iniciais de 0,625 mg para adolescentes do sexo feminino e 1,25 mg para os do sexo masculino, variando até 2,5 mg e 5 mg para mulheres adultas e adolescentes e homens adultos, respectivamente.
Atualmente, disse o Dr. Benjamin, muitos dermatologistas — incluindo alguns que prescrevem minoxidil oral de baixa dosagem — permanecem desconfortáveis mesmo com doses muito baixas, talvez por causa de uma percepção incorreta sobre risco cardiovascular, como hipotensão potencial e derrames pericárdicos.
No entanto, dados recentes, como uma revisão publicada em 7 de novembro de 2024 no periódico Journal of the American Academy of Dermatology, não indicam efeito significativo do minoxidil oral de baixa dosagem na pressão arterial. Além disso, um artigo publicado no periódico Journal of Drugs in Dermatology em setembro de 2024 não encontrou impacto em derrames pericárdicos em uma coorte de 100 pacientes.
Alguns dermatologistas se preocupam com o impacto que a hipertricose pode ter nos pacientes, acrescentou o Dr. Benjamin. Embora as estimativas de incidência variem de 15% a 30%, ele observou que mais da metade de seus pacientes apresentam esse efeito.
“No entanto, a maioria continua o tratamento, pois os efeitos benéficos superam os inconvenientes da hipertricose”.
Roteiro prático
O Dr. Adam Friedman, que não participou da publicação, elogiou a orientação clínica pragmática, algo raro em artigos de consenso. “Este artigo define um ótimo roteiro para trabalhar com minoxidil oral de baixa dosagem na prática clínica”, disse ele, que é médico, professor e chefe de dermatologia na George Washington University, nos EUA, em uma entrevista.
Em vez de limitar o uso de minoxidil oral de baixa dosagem à alopecia androgenética, o Dr. Adam afirmou que o artigo é mais útil por mostrar o espectro de doenças para as quais o painel de especialistas recomenda sua prescrição.
“Nós o usamos como terapia adjuvante para muitas outras coisas, tanto para perda de cabelo cicatricial quanto não cicatricial”, ele acrescentou.
Em contextos clínicos apropriados, os autores sugerem que os médicos considerem combinar minoxidil oral de baixa dosagem com espironolactona ou betabloqueadores. O Dr. Adam, por sua vez, destacou que, em sua prática, combinar minoxidil oral com um inibidor da 5-alfa redutase tem mostrado resultados “absolutamente extraordinários”. Ele explicou que o minoxidil aumenta o fluxo sanguíneo para o couro cabeludo, enquanto os inibidores da 5-alfa redutase previnem a produção de di-hidrotestosterona, que contribui para a miniaturização capilar.
A Dra. Jennifer disse: “Esperamos que esses desfechos do consenso sejam úteis para colegas da dermatologia ao considerarem o uso de minoxidil oral de baixa dosagem para tratar queda de cabelo em seus pacientes adultos e adolescentes.
Prevemos que essas diretrizes serão atualizadas à medida que dados adicionais com base em evidências surgirem e estamos encorajados pelo fato de já estarmos observando novas publicações sobre esse tópico”.
Ela observou que áreas importantes para pesquisas futuras incluem o uso pediátrico de minoxidil oral de baixa dosagem, a eficácia comparativa do minoxidil tópico versus oral, a segurança do minoxidil oral para pacientes com histórico de dermatite alérgica de contato ao minoxidil tópico e o uso de outras formas não aprovadas de minoxidil, como minoxidil oral composto e minoxidil sublingual.
O estudo foi financiado pela University of California, San Francisco, Department of Dermatology Medical Student Summer Research Fellowship Program, EUA. A Dra. Jennifer Fu relatou honorários pessoais da Pfizer, Eli Lilly and Company e Sun Pharma não relacionados ao estudo. A lista completa de informações dos autores pode ser encontrada no artigo. O Dr. Benjamin Ungar e o Dr. Adam Friedman informaram não ter conflitos de interesses.
John Jesitus é um escritor e editor médico freelancer que vive em Denver, Estados Unidos.
Bibliografia: https://portugues.medscape.com/verartigo/6512050#vp_1